Assim como os adultos, as falas de uma criança revelam muito sobre a maneira delas de pensar e, muitas vezes, revelam o que escutam no ambiente familiar. Para falar sobre a importância do diálogo e da escuta qualificada dentro das famílias, a equipe técnica do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Inhaguetá promoveu um bate-papo entre pais e filhos.
A equipe utilizou a metodologia de “Papo de criança com adulto” e “Papo de adultos com crianças”, que consistiu em falar sobre temas que norteiam o universo das crianças com os pais e, de coisas de adulto, como racismo, futuro, bullying, direitos com o grupo de crianças com até seis anos de idade. A atividade atraiu oito crianças de até seis anos e suas famílias.
Munidos de imagens com representação de família, brincadeiras, prática de bullying ou frases com questionamento sobre “o que quero para o país”, as crianças esboçaram reações, verbalizaram o que sabem e, principalmente, expressaram que sentem muito mais do que algumas famílias imaginam.
Foi o que revelou Asafe Bruno, de 8 anos, ao ver a imagem de uma menina negra e vários dedos apontados para ela. “Devem estar acusando ela de roubo. Isso é racismo. Isso é triste. Isso é feio”, disse imediatamente.
Ao ser perguntado como sabia disso, Asafe disse: “Ouvi uns amigos falando isso. Ouvi na TV que a gente deve defender para não fazerem isso. Isso é crime, né?”, questionou ele, sentado ao lado dos irmãos Benjamim Kaleb, 4 anos; e Hadassa Victoria, 5 anos.
Em outra sala estava a mãe dos três irmãos, a dona de casa Raquel da Silva Alves, que conversava com outras mães e pais sobre a importância de interagir por meio do diálogo com os filhos.
Quando foi colocado o tema “dividir os brinquedos com os coleguinhas, a dona de casa disse: “Com meus filhos converso muito sobre a importância de dividir. Na minha casa, também, não tem outra opção, brincou ela que é mãe também de Theo Luca, de sete meses, e Cristopher, de 2 anos.
Raquel fez questão de acrescentar que “somos espelho para nossos filhos. Temos que falar e praticar”. Ao ser informada que o filho Asafe tinha “dado” uma aula sobre combate ao racismo aos coleguinhas, a dona de casa sorriu cheia de orgulho.
“Lá em casa mostro pra eles as diferenças. Falo que cada um é bonito, inteligente. Lá em casa cada um tem uma cor, um tipo de cabelo. Digo que todos tem seu valor. Sabe que o Asafe até fez uma música para falar das diferenças dos irmãos e ressaltar a beleza de cada um?”, contou ela.
Já a menina Eloá Paixão, de 5 anos, ao olhar para a frase “o que quero para o meu país”, disse: “Quero casas douradas. Casa com cortinas douradas”. Ao ser perguntada sobre o motivo, ela complementou: “Porque quero casas bonitas. Quero também ficar mais aqui. Gosto de brincar, gosto das crianças e das tias (educadoras sociais)”.
Quando o quadro família apareceu entre os pequenos, Ana Brenda Souza, de 6 anos, apressou-se para falar: “gosto muito do meu pai. Ele é legal. Me leva para andar de bicicleta”. Ao saber do sentimento da Ana Brenda, Emerson Santos Gonçalves, que é o padastro da menina, esboçou um grande sorriso ao lado da esposa Aline de Souza, mãe da criança.
“Eu sempre levo ela para passear de bicicleta e também ensino que ela precisa respeitar as pessoas mais velhas, a ser carinhosa com a mãe. Ela é esperta, gosta de estudar”, contou o seu padrasto.
“Com o acesso à informação cada vez mais fácil e rápido, inclusive a crescente disseminação de notícias falsas, é urgente falar com as crianças sobre assuntos que estão no dia a dia das famílias”, comentou a coordenadora do Cras, Danielle Merisio, que deu a missão à equipe de pensar atividades para abordar sentimentos e pensamentos que talvez estivessem causando algum conflito familiar ou comunitário.
Para a coordenadora, momentos como esse são essenciais para criar um ambiente de respeito às dúvidas e opiniões das crianças, bem como de acolhida aos seus sentimentos, seja em casa ou fora dela.
A secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, disse que a primeira infância, que compreende a fase dos 0 aos 6 anos, é um período crucial na formação de um ser. “Por isso, a qualidade das relações no ambiente familiar é muito importante. O trabalho social com famílias é essencial na Assistência Social, por meio dos grupos e de demandas coletivas de nossas famílias podemos atuar para que conheçam seus direitos e fortaleçam vínculos”, defende Cintya.
Bate-papo com pais e filhos, no Cras Inhanguetá, auxilia na relação familiar