Encontro de milhões. Assim pode ser definido o encontro de Geraldo Nunes e Jayson Roque com o oficineiro de Artes Visuais e Cênicas José Eduardo Alves, que atua no Centro de Referência para Pessoa em Situação de Rua (Centro Pop) de Vitória. Um encontro de artistas autodidatas com um profissional que juntos vem produzindo obras de artes, espalhando cor e construindo uma nova história em busca da superação da condição de vulnerabilidade.
O oficineiro José Eduardo, que está trabalhando no Centro Pop há um mês, contou que quando chegou ao espaço e viu as paredes e portas “em branco” teve a ideia de ocupar com obras de artes produzidas a várias mãos. “A proposta é promover a integração. Todo mundo pode participar. As obras seguirão temáticas que representarão a funcionalidade de cada sala ou parede livre”, comentou ele.
José Eduardo disse que durante as oficinas de artes a cada traço abre-se possibilidades de conversas sobre as trajetórias de vida, família, sonhos, sentimentos, futuro e presente.
“Falamos sobre tudo. A oficina é aberta a todos os usuários do Centro Pop. Muitos chegam e afirmam que não sabem desenhar, pintar… mas é só começar que descobrem ou deixam fluir o talento. Por isso, a gente diz: Quem quiser pode chegar e dar sua contribuição, deixar a sua marca, seu traço”, falou o oficineiro.
Apesar do pouco tempo no Centro Pop, José Eduardo afirmou que “nessa interação, nessa escuta qualificada que acontece, também, durante as oficinas descobrimos talentos. Tem muita gente boa de trampo”.
Talento
E foi assim que Jayson, que é serralheiro profissional, encontrou espaço para mostrar seu talento artístico. Jayson é parintinense e veio para Vitória trabalhar na montagem dos carros alegóricos de escolas de samba capixabas. Há quatro meses está em situação de rua, mas só nesta quarta-feira (25) entrou no Centro Pop.
Foi só entrar que Jayson já se sentiu atraído pela oficina de artes do José Eduardo e foi colocando a mão no pincel e nas tintas. “Sou serralheiro, mas ele (o oficineiro) disse que também sou um artista, porque transformo ferro em arte. É bom estar aqui porque arte é uma coisa boa para a cabeça”, disse ele.
Durante a conversa, Jayson mostrou ser “pé quente”, ou melhor, um “mão quente”. Cheio de orgulho, entre uma pincelada e outra, ele disse que todas as escolas de samba em que trabalhou conquistaram o título de campeã do Carnaval de Vitória. “Trabalhei na Boa Vista e ela bicampeã. Trabalhei na Novo Império e conquistou o título. No ano passo, trabalhei na MUG e ela foi campeã”, contou ele.
Enquanto Jayson é o serralheiro artista, o usuário Geraldo Nunes, de 62 anos, é o catador de café e desenhista, apaixonado por árvores. Autodidata, ele contou que aprendeu desenhando os traçados na mente, enquanto descansava debaixo das roças de café, em Governador Lindenberg.
Desde que foi acolhido no Centro Pop, Geraldo passa boa parte do dia produzindo desenhos com a temática floresta. Mas já frequentou as aulas do Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde aprendeu a ler.
Hoje, Geraldo disse que sonha em ter própria casa. “Quero me organizar e ter meu cantinho lá, em Governador Lindenberg. Quero um lugar sossegado. Uma casa com uma parede azul para encher de desenhos”, revelou ele.
A coordenadora do Centro Pop, Danielle Solano, disse que, para muitos, o espaço se transforma em um serviço de convivência para pessoa adulta. “Todo dia escutamos histórias interessantes. São trabalhados os vínculos e ofertadas oportunidades para que eles alcancem a autonomia”, destacou a coordenadora.
Para a secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, as oficinas de artes tem um papel fundamental como estímulo à autonomia de nossos usuários. “Não estamos em busca de revelar talentos, mas eles estão ali e são muitos e, muitos com habilidades diversas. As ações são pensadas para a ampliação às perspectivas dos usuários e superar a condição de rua”, explicou a secretária.
Centro Pop proporciona encontros emocionantes