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domingo, abril 20, 2025
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Tecnologias prometem, mas Marataízes ainda vive sob a sombra da escassez de água e tratamento de esgoto

O avanço das tecnologias de dessalinização e reúso tem se revelado um marco na segurança hídrica do Espírito Santo. Iniciativas de destaque, como a futura usina de dessalinização em Guarapari, projetada para produzir 95 milhões de litros diários de água potável, e a estação de reúso da ArcelorMittal, que transformará esgoto sanitário em água industrial, posicionam o Estado como referência nacional em soluções sustentáveis para a crise hídrica e tratamento de esgoto moderno.

Entretanto, enquanto as regiões metropolitanas celebram esses avanços, a realidade de Marataízes, no litoral sul do Estado, expõe uma dura contradição. Apesar de uma arrecadação superior a R$ 1,5 bilhão na última década, oriunda dos royalties de petróleo e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), a população enfrenta uma grave crise hídrica e um sistema de esgotamento sanitário deficitário, reflexos da falta de investimentos em infraestrutura.

A dependência de caminhões-pipa para atender cerca de 810 famílias é apenas a ponta do iceberg de um problema maior: uma rede adutora com mais de 30 anos de uso e a crescente salinização do Rio Itapemirim têm levado moradores a depender de lagoas para suprir necessidades básicas. Escolas e creches, por sua vez, enfrentam frequentes fechamentos devido à falta de água tratada.

Apesar dos esforços do novo diretor do SAAE, Vitor Moreira, que implementou medidas emergenciais, como o uso de cinco caminhões-pipa e a possível perfuração de poços, as soluções ainda carecem de planejamento adequado e de recursos consistentes. A crise, longe de ser sazonal, evidencia uma década de omissão administrativa e gestão ineficaz.

O governador Renato Casagrande, em recente entrevista, reconheceu a carência de investimentos em saneamento básico em municípios como Marataízes e Itapemirim, ressaltando a necessidade de Parcerias Público-Privadas (PPPs) para reverter esse quadro. A promessa de articulação entre prefeitos eleitos e o governo estadual para integrar sistemas autônomos de água e esgoto traz esperança, mas levanta um questionamento crucial: por que esses investimentos foram negligenciados por tanto tempo, especialmente em uma região estratégica para o turismo e a economia do Estado?

A entrega recente de obras de saneamento básico em Guarapari, com investimentos de R$ 48,6 milhões, demonstra como a integração de esforços pode gerar resultados concretos. A ampliação da capacidade de produção de água tratada e o tratamento sustentável de esgoto são exemplos de políticas públicas eficazes que poderiam ser replicadas em Marataízes. Entre as intervenções realizadas estão a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Meaípe, o Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) de Nova Guarapari e duas estações de ultrafiltração de água, que aumentaram a produção de água tratada de 440 l/s para 570 l/s, assegurando 50 milhões de litros diários para atender à alta temporada. Essas obras beneficiaram cerca de 38 mil moradores, melhoraram a qualidade de vida e contribuíram para a despoluição de praias e mananciais.

Superar a crise hídrica em Marataízes exige uma combinação de ações emergenciais e estruturais. A substituição da rede adutora, a construção de um reservatório de água tratada e a instalação de uma estação moderna de tratamento de esgoto são medidas urgentes. Além disso, a transparência na gestão dos recursos públicos é essencial para que a população confie nas iniciativas propostas.

Paralelamente, o uso de inovações tecnológicas, como a dessalinização e o reúso, deve ser considerado em pequena escala e adaptado às demandas locais. Parcerias com o setor privado, incentivos fiscais e ações integradas entre municípios e o governo estadual são fundamentais para acelerar o progresso.

Marataízes precisa transformar-se de exemplo de inércia em modelo de resiliência hídrica. A população não pode continuar pagando o preço alto da omissão administrativa. Será que privatizações, PPPs e um sistema autônomo de água e esgoto são caminhos viáveis? É hora de agir com determinação, fiscalização e responsabilidade para assegurar o direito básico à água, ao saneamento e à dignidade humana.

Por Fabiano Peixoto / Jornalista e Editor Chefe

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